Cidade concentrou 62,5% das mortes de toda a pandemia entre os meses de março e abril. Com 92 óbitos, os últimos 20 dias foram os mais letais. Apesar disso, média diária de novos casos de Covid-19 caiu para menos da metade após um mês de restrições
Os números da Covid-19 são cada dia mais pesarosos. Ontem, Pouso Alegre registrou mais seis mortes, chegando a um total de 267 vidas perdidas para a pandemia.
A estatística mais assustadora, porém, tomou forma ao longo dos últimos 50 dias. A cidade levou 10 meses para chegar a 100 mortes na pandemia, mas precisou de menos de dois para contabilizar outras 167, que foi o total de óbitos registrados ao longo do mês de março e 20 dias de abril.
A enorme quantidade de vidas perdidas neste curto espaço de tempo representa 62,5% de todas as pessoas que morreram de Covid-19 na cidade ao longo da pandemia.
O aumento exponencial de óbitos coincide com a lotação dos hospitais do município, que tiveram seus leitos destinados ao tratamento da Covid-19 esgotados a partir da segunda quinzena de março. Daí em diante, o quadro só piorou.
Tanto assim que o mês de abril ainda tem nove dias pela frente, mas já é o mais letal da pandemia, com 92 óbitos. Em, março, quando se atingiu o recorde anterior, 75 pessoas morreram por complicações da infecção.
No pior momento, a cidade chegou a registrar 27 mortes em apenas 72 horas. Isso aconteceu no dia 5 de abril. No dia 10, seria atingida a maior média diária de mortes ao longo de sete dias, 6,43.
O indicador teve uma queda considerável nos dias seguintes e chegou a 2,71 em 13 de abril. Mas voltou a acelerar nos últimos dias. Com as seis mortes registradas ontem, a média voltou para 5,14.
O pior já passou?
Apesar da tragédia e dor que cercam cada morte anunciada, um indicador importantíssimo tem dado sinais de que o pior momento da pandemia no município pode estar chegando ao fim. A média móvel de novos casos está em queda desde o dia 16 de abril.
Ao longo de sete dias encerrados na terça-feira, a cidade registrou média diária de 87,5 novos casos de Covid-19. Para se ter uma ideia, no pico de contaminações, essa média chegou a 217,8, no dia 29 de março, mais que o dobro da média atual.
Tudo leva a crer que a acentuada queda de novos casos está relacionada às medidas restritivas da ‘onda roxa’, que manteve serviços considerados não essenciais fechados por um mês e chegou, inclusive, a decretar toque de recolher na cidade.
As medidas de restrição, porém, chegaram ao fim no último sábado, quando o município e região avançaram para a onda vermelha, liberando, com algumas limitações, praticamente todas as atividades econômicas.
Para especialistas, como o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, um dos coordenadores da Rede Análise Covid-19, a abertura pode ter sido precipitada. “Estamos flexibilizando cedo demais e revertendo a desaceleração”, projeta.
Segundo Isaac, a abertura pode criar uma nova explosão de casos. “O Brasil só deu uma respirada, encheu pulmão de ar e já vai voltar a mergulhar de novo. Não deixou cair o número de casos para valer”, analisou em entrevistas à BBC Brasil.
O alerta do cientista de dados vai na mesma linha do último boletim extraordinário do Observatório Covid-19, preparado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. Eles alertam para a estabilização da pandemia em níveis críticos.
“Esse padrão pode representar a desaceleração da pandemia, com a formação de um novo patamar, como o ocorrido em meados de 2020, porém com números bem mais elevados de casos graves e óbitos”, dizem os pesquisadores. A íntegra do estudo você confere aqui.
Vacinação começa a dar resultados, garante o prefeito Rafael Simões (DEM)
Apesar do apelo de cientistas e profissionais da saúde, que chegam a pedir lockdown nacional, resta evidente que novas medidas restritivas só serão adotadas em caso de colapso ainda maior do sistema de saúde e nova explosão de contaminações, mas e a vacinação? Mesmo lenta ela já pode estar surtindo algum efeito?
O prefeito Rafael Simões (DEM) tem afirmado nos últimos dias que sim. Na manhã de ontem, em vídeo gravado para convocar os idosos de 65 anos a comparecerem no ‘Pit Stop’ de vacinação da Univás, o político afirmou que imunização já estaria amenizando a pandemia. Ele, porém, não apresentou números que pudessem sustentar a tese.
E eu quero dizer: está sendo muito importante a vacinação. Pelos índices que nós tivemos aí desde quando começamos a vacinar, nós temos percebido claramente que a vacina é a solução”, afirmou o político.
Atualmente, o município vacina idosos a partir de 64 anos, além de já ter imunizado profissionais de saúde acima de 35 anos, com um total de 22,5 mil aplicações de primeira dose e outras 7,4 mil aplicações de segunda dose.
O que a secretária de Saúde Silvia Regina já confirmou, inclusive ao R24, é que as internações de pessoas mais velhas, oriundas das faixas etárias já inclusas na campanha de vacinação, teve queda importante. Em contraposição, porém, aumentou o número de pessoas mais jovens afetadas pelas versões graves da doença.

Internações têm leve queda, mas lotação segue acima de 100%
Apesar de mostrar algumas oscilações negativas ao longo dos últimos dias, as internações por Covid-19 seguem em níveis preocupantes, superando a capacidade de atendimento destinada à infecção. Nos leitos clínicos e nas alas de UTI a ocupação relativa é a mesma, 110%.
O percentual acima significa dizer que pacientes de Covid-19 continuam a ser remanejados para leitos destinados ao tratamento de outras enfermidades, pressionando ao máximo o sistema de saúde.
Há um total de 165 pessoas internadas nos hospitais de Pouso Alegre por conta da doença. Deste montante, 137 são de moradores de Pouso Alegre, outros 28 de cidades vizinhas.
Acumulado da pandemia
O último boletim epidemiológico do município foi publicado nesta quarta-feira, 21, pela Prefeitura. Seus dados são referentes a terça-feira, 20.
Segundo o levantamento, em 24 horas, o município registrou mais seis óbitos e 102 novos casos. No acumulado da pandemia, a cidade soma 13.878 infecções, das quais 12.844 se referem a pessoas que já estariam recuperadas da doença; outras 767 seguem em recuperação; o total de óbitos atribuídos à Covid-19 é de 267.
