Mulher teria sido agredida com socos e pontapés em ato que teria tido participação de um menor e cinco homens. Agressões teriam continuado mesmo após ela estar caída no chão. Justiça determinou medidas cautelares contra os investigados, que não podem sair à noite, frequentar bares nem manter contato com a vítima. Investigados negam agressões, mas advogada da vítima diz esperar que eles sejam denunciados por tentativa de homicídio
Cinco homens e um menor são investigados por participarem de agressão contra uma mulher de 33 anos em um bar de Pedralva, no Sul de Minas. As agressões ocorreram no dia 21 de abril, mas, só na última semana, a Justiça deferiu medida cautelar contra os investigados.
De cordo com relatos de testemunhas, Ana Cláudia Braga, de 33 anos, teria sido agredida com socos e pontapés por três homens, sendo o pai e dois filhos, enquanto outros três homens impediam que seus amigos e populares tentassem socorrê-la. A vítima foi levada para o hospital da cidade com hematomas, escoriações na face e ao menos uma lesão na cabeça.
O caso está sendo investigado pelo delegado Marcel Angel, da regional de Itajubá, também no Sul de Minas. No dia do ocorrido, os três homens que seriam responsáveis diretos pelas agressões foram detidos pela polícia, mas acabaram liberados após prestarem esclarecimentos.
Duas semanas depois, porém, a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público, o juiz de primeira instância da Comarca de Pedralva, Fábio Moreira Arantes, deferiu uma série de medidas cautelares contra pai e filho, excluindo da ação o membro da família que é menor de idade, e outros três homens que também passaram a ser investigados por participação nas agressões.
Os investigados Ruberlei Augusto da Silva, Pedro Augusto Piazza Silva, Cid Lauderson de Freitas, Ronaldo de Lima e Luiz Antônio Carvalho devem obedecer a cinco medidas cautelares: permanecer a distância mínima de 300 metros da vítima, seus familiares e testemunhas; eles também não podem tentar contato de nenhuma forma com vítima, familiares e testemunhas; estão, ainda, proibidos de frequentar bares, boates, clubes e locais assemelhados; o juiz também os proibiu de comparecer às festividades da cidade, que comemora seu aniversário de 135 anos; por fim, os citados devem permanecer em seus domicílios durante a noite.
O juiz também suspendeu o registro de uma arma portada por um dos investigados, Ronaldo de Lima, um revólver calibre 38, e ordenou que ele fosse entregue às autoridades.
Em decisão, justiça narra como teriam ocorrido as agressões
As agressões a Ana Cláudia teriam começado quando ela disse algo a Pedro Augusto, com quem teria tido um relacionamento. No boletim de ocorrência ela afirma que ele a estaria ‘injuriando pela cidade’. A discussão verbal foi apontada por ela e testemunhas como ponto de partida para as agressões que se seguiram: empurrões, socos e pontapés, mesmo após ela estar caída ao chão.
Na decisão em que deferiu as medidas cautelares contra os investigados, o juiz Fábio Moreira Arantes narra como teriam sido as agressões com base em depoimentos e imagens colhidos, até então, pela Polícia Civil.
“Em suma, Ruberlei deu um soco no rosto da vítima, que veio ao chão. Em seguida, Pedro e [seu irmão menor de idade*] passaram a desferir chutes no rosto da vítima. Ainda sobre as agressões, outra testemunha mencionou ter visto que [o menor de idade] desferiu um soco forte na vitima, Ruberlei a segurou pelo pescoço e [o menor de idade] desferiu outros três socos, além de outros atos de violência consistentes em chutes e pisões perpetrados por Ruberlei, [o menor de idade] e Pedro quando a vitima já estava no solo. Os presentes também relataram que as agressões apenas cessaram em virtude da intervenção de outras pessoas presentes no bar”, relata trecho da decisão à qual o R24 teve acesso.
Ainda segundo a apuração inicial, enquanto pai e filhos agrediam Ana Cláudia, três homens brigavam com pessoas que tentavam intervir nas agressões, impedindo que a vítima tivesse auxílio.
“Concomitantemente, outros três homens (“Guinho, Sidnei e Luiz Bambu, vulgos de Ronaldo de Lima, Cid Lauderson de Freitas e Luiz Antônio Carvalho, respectivamente) brigavam com outros rapazes que tentaram intervir. Outra testemunha presenciou [o menor de idade] pegar uma garrafa e arremessar na direção de Ana Cláudia. Há, ainda, relatos das consequências do ocorrido: a vítima apresenta edema no rosto, olhos e abdômen, confusão mental, lentidão e sonolência”, prossegue trecho da decisão que também “a existência de registro de envolvimento em outra briga no mesmo local”.
Ana Cláudia diz que está tentando entender o que aconteceu e pede justiça
Alguns dias após sofrer as agressões, Ana Cláudia decidiu deixar Pedralva. Constrangida com os olhares e comentários que circulavam pela cidade, não encontrou condições psicológicas de continuar morando no município. Dona de uma padaria, que tocava sozinha, precisou fechar as portas do estabelecimento. Se recuperando das lesões, ela ainda não arranjou outra fonte de renda.
Ela diz esperar por justiça. “Minha vida parou, a vida dos meus filhos parou. Estou endividada . A vida deles continua normal. Eu espero que eles paguem. Não é a primeira vez que eles ofendem as pessoas”, alega a vítima, que diz não entender o motivo das agressões.
Segundo ela, o pai e os dois filhos que a agrediram eram pessoas próximas, frequentavam sua padaria e até sua casa. Ainda de acordo com Ana Cláudia, ela não teria sequer provocado Pedro, como relatado pelos investigados. “Eu passei e brinquei com ele: para de fazer fofoca de mim, hein?”. Na sua avaliação, porém, o irmão de Pedro teria interpretado sua fala de maneira errada e partiu para cima dela, iniciando a confusão.

Ana Cládia recebe atendimento após agressões | Imagem cedida
Família está em choque e teme represálias de agressores
A família da vítima só ficou sabendo das agressões no dia seguinte, quando começou a receber as imagens de Ana Cláudia ferida. Uma de suas irmãs, Carmem Braga, se diz chocada com a covardia das agressões.
“Foram seis homens chutando ela, esmurrando a vítima. Pisando, enforcando. (…) Nossa família, desde então, tem sentido muita ansiedade, tristeza, insônia. Estamos todos com dor na alma de pensar que nossa irmã sofreu tanta dor física por ser covardemente agredida por vários homens“, lamenta.
Ela criticou o primeiro atendimento recebido pela irmã na delegacia de Itajubá, feito pelo delegado de plantão. “O delegado tratou a minha irmã com arrogância e descaso, dizendo para a vítima que não tinha evidências alguma de que ela tinha sofrido agressões e se recusou a olhar as imagens que a minha irmão tinha para mostrar pra ele. Então, ali também ela sofreu humilhação, né?”, se queixa.
A apuração do caso, porém, seguiu para as mãos do delegado Marcel Angel, que retornou de férias, instaurou o inquérito e apresentou à justiça o pedido de medidas cautelares contra os investigados, no que foi atendido.
Em depoimento, uma outra irmã da vítima, alega que a família tem medo de represálias dos agressores. Segundo ela, Ana Cláudia teria deixado de mandar os filhos para a escola, com medo de acontecer algo com eles.
Advogada da vítima fala espera que agressores sejam denunciados por tentativa de homicídio
O caso foi registrado num primeiro momento como lesão corporal leve, mas a advogada de Ana Cláudia, Cintia Kersul, acredita que se tratou de uma tentativa de homicídio. “Minha perspectiva é que o Ministério Público denuncie esses agressores por tentativa de homicídio, não por lesão corporal leve, porque ela teve um traumatismo craniano do lado esquerdo (…) um rim ficou afetado também, ela vai ter que fazer tratamento”, afirma.
Outro lado
O R24 tentou contato com os investigados, mas só conseguiu falar com Ruberlei. Ele disse que não poderia se pronunciar a respeito do caso, pois este estaria “sobre (sic) segredo de justiça”. Ainda segundo ele, já haveria “fortes indícios que o colocado em rede social pela mulher não corresponde a verdade. Que as fotos teriam sido simuladas para aparentar situação não ocorrida”, garantiu em mensagem de texto enviada ao R24.
*O nome do menor investigado no caso foi suprimido por questões legais.
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